Garotas negras amam se bronzear. Parece loucura? Talvez para quem não é brasileira. Brasileiras, especificamente Cariocas, amam se bronzear.
Por toda a cidade você encontra lajes específicas para o “Bronzeamento”. Quando o Sol está alto e passando dos 35ºC, esses locais ficam lotados de mulheres deitadas e expostas ao Sol. Elas usam a “fita” (fita colante cortada e montada no formato de um biquíni), o bronzeador (uma mistura de óleos de beterraba, cenoura e coco com creme bronzeador), além de um suco gelado de cenoura com beterraba. Após ficarem no Sol por aproximadamente duas horas, a fita é retirada, e deixa uma marca também conhecida como “marquinha”.
Mas as lajes não são os únicos lugares onde as pessoas gostam de se bronzear, e é claro que você verá pessoas se bronzeando na praia em um dia de domingo. Os domingos são os melhores dias de praia no Rio de Janeiro – bem, todo dia é dia de praia, mas aos domingos a praia estará lotada. É parte da cultura de praia Carioca. Eu lembro que quando uma amiga brasileira e eu íamos a praia aos domingos, ela costumava dividir seu óleo bronzeador comigo, e nós ficávamos lá ativando nossa melanina. Ela preferia praia às lajes de bronzeamento pois acha que as marquinhas de biquíni de fita parecem superficiais, e acredite ou não, alguns homens diriam que eles também não gostam desse tipo de marca.

Como uma negra retinta dos Estados Unidos, eu sempre amei ficar mais escura no verão, o que não é comum na minha cultura. Somos orientadas a não usar cores chamativas como o amarelo. Morar no Rio de Janeiro é o paraíso para garotas negras como eu, que amam se bronzear, que querem ser MAIS PRETAS. E até os homens acham mais sexy. Homens ficam loucos com as marquinhas, queridas. Cores claras como branco, rosa e amarelo contrastando com seu tom de pele, definitivamente farão cabeças virarem.

Nós somos literalmente ensinadas a ficar longe do Sol.
Nos EUA, muitas pessoas negras veem o bronzeamento como algo que apenas mulheres brancas podem fazer, por que elas pensam que como já somos escuras não precisamos ficar mais escuras. Como parte disso, como hábito, as pessoas corram do Sol. Eu lembro de namorar um homem negro de pele clara nos EUA, e ele implorar para que não ficássemos expostos ao Sol, porque ele queria continuar claro.

Eu costumo ouvir esse tipo de comentário das pessoas negras que conheço. Inclusive alguns homens negros já me repreenderam por eu achar a pele negra retinta atrativa. Eles acham esquisito o fato de eu e uns amigos corrermos para a praia como uma forma de fazer o Sol dar um “up” na nossa melanina. Meu círculo de amizade gosta do Sol e ama ficar mais escuro, mas nós somos uma exceção se comparados com a cultura de bronzeamento no Rio de Janeiro. É como se fosse parte do estilo de lá.

Durante os dias que antecedem ao Carnaval ou mesmo no início do verão no Rio de Janeiro, mulheres (incluindo eu mesma) correm para a praia ou para as lajes para ativar a melanina, assim como você tem seu ritual de unhas ou cabelos. Você verá passistas (dançarinas profissionais de uma escola de samba) mostrando suas marquinhas nos ensaios ou na avenida. Bronzear-se faz parte do ritual de beleza lá. Unhas, cabelos, sobrancelhas, depilação e bronzeado!
Tudo faz parte do costume! E é um hábito lindo das mulheres negras. Eu nunca vi tantas mulheres negras retintas querendo se bronzear e ficar mais escuras do que elas realmente são, quanto lá. Claro que no Rio todas as raças se bronzeiam, mas é algo tão especial e revolucionário ver tantas pessoas contra a tendência de descolorir a pele, e ao invés disso, ficarem mais escuras.
